A VERDADE DO EVANGELHO

MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY

por Charles G. Finney

CAPÍTULO VII

 

APONTAMENTOS ESPECÍFICOS SOBRE EDUCAÇÃO MINISTERIAL

Tudo o que os meus irmãos possam vir a pensar das minhas intenções sobre aquilo que agora vou escrever, que seja em conformidade com a verdade, que é pura benevolência naquilo que toca ao seu maior proveito na seara de Deus. Sempre recebi critica, bondosamente, não dando nada mais a não ser crédito a tudo aquilo que ouvia dizer sobre meu ministério. Agora sou um homem velho, meu labor frutificou, os resultados de toda a minha maneira de trabalhar estão visíveis e são sobejamente conhecidos de todo o público. Agora é que chegou a minha hora de falar a todos livremente sobre o meu ministério. Várias vezes falei que um dia um juiz do Supremo tribunal se aproximou de mim dizendo: "Os ministros do evangelho não fazem uso do bom senso comum para endereçar mensagens às pessoas, pois temem repetir-se. Usam sempre uma linguagem que não é conhecida nem entendida da grande parte do público que os escuta ainda. O alvo das suas mensagens não captam as águas que derramam e distribuem. Escrevem num estilo elaborado demais, que se lê sem repetição, o que nunca é percebido pelo povo em geral. Se os advogados fizessem uso desta forma de expor seus casos na barra do tribunal, todos se arruinariam na defesa de seus casos. Quando eu ainda exercia o meu ofício de advogado, acreditava que tinha de me repetir quantas vezes quantas pessoas estivessem na posição assumida de me ouvir na constituição do jurado ali presente. Descobri que se não o fizesse assim, tudo muito bem ilustrado e repetido, acima de bem elaborado, se não volvesse todos os meus pontos de vista de cima para baixo e de baixo para cima, de todos os ângulos prováveis, de todos as aproximações da lei e evidência aceitáveis, perdia sempre a minha causa na barra do tribunal. O nosso maior objectivo é sempre assegurar as mentes de quem é jurado antes que deixem a sua tribuna para irem decidir sobre a justiça dum caso específico. Se não fizermos uso duma linguagem acertada, que seja realmente compreendida e apreendida por todos mas nunca apenas parcialmente, se nunca evitarmos ilustrações acima da compreensão para provocarmos que se arregalem os olhos a nosso respeito, se o nosso falar se limitar a um oratório mal entendido, se todos os jurados abandonarem assim a sala da barra, nunca ganharemos uma causa em tribunal de justiça. A nossa única intenção é obter um veredicto. Por essa razão, se por acaso um dos jurados sair dali duvidando se está a cumprir a lei de facto, nunca terá liberdade de espírito de decidir a nosso favor. Resumindo, se esperamos alcançar um qualquer veredicto que nos possa vir a ser favorável, logo e ali mesmo, de imediato, antes de abandonarem a sala, temos de ser bem entendidos por eles. Se saírem dali convencidos, se nossos argumentos forem bem explícitos, dificilmente perderemos uma causa desde que justa. Se todos os apontamentos singrarem em suas mentes, se nossos  pensamentos forem donos da razão, porque se estragará tudo através da eloquência? Qual a finalidade de tudo aquilo então, ganhar ou perder uma causa, ser bem visto pelas palavras que elaboramos e mal vistos por havermos perdido a causa em questão, ou bem vistos por que ganhamos a causa pela verdade e justiça em tribunal? Temos de os convencer profundamente, pois sermos detentores da verdade não explicada não basta. Temos de nos sobrepor às suas dúvidas. Temos de vencer e contrapor à sua ignorância das coisas. Teremos de vencer necessariamente o seu interesse contra nosso cliente; se todos os ministros bíblicos fizessem isto tudo, os efeitos de toda a sua pregação seria muito distinta daquilo que vemos hoje. Eles entram nos seus escritórios e escrevem um certo sermão, vão para o seu púlpito lê-lo, com palavras que poucos na audiência entendem. Muitas das suas palavras nem sequer são entendidas pela grande maioria das pessoas, até que vão para casa consultar um dicionário. Eles não manifestam claro interesse em converter e convencer ninguém &endash; apenas em se tornarem eloquentes diante das pessoas. Não esperam alcançar logo ali um veredicto a favor do Senhor Jesus Cristo, sem mais demoras! Nada disso é o seu objectivo! Querem produzir-se para que pareçam bons oradores de palavreado que ninguém entende. Todo o tipo de ornamento na linguagem os torna fúteis e sem nada para argumentar a favor de Cristo em pessoa!" É claro que aqui não poderei estar a transcrever literalmente todas as palavras daquele juiz, mas a substancia de tudo o que me disse foi esta, integralmente.

Eu nunca tratei nenhum de todos os meus irmãos com a rudeza com que me trataram inúmeras vezes em variadíssimas circunstâncias. Sabia que todos eles estavam ansiosos demais para me fazer aquilo que pensavam ser o bem. Queriam que eu fosse pender para o lado das suas opiniões. Mas Deus me guiou por outros caminhos. Sou diferente em opinião. Poderia ilustrar muitos factos relevantes consoante a quantidade de ministros que existem por este mundo fora. Quando pregava em Filadélfia, um Dr--, aquele Professor temperamental de Connecticut, veio-me ouvir pregar. Ficou indignado pela maneira como assumi todo o púlpito. Indignou-se porque, dizia ele, não dignificava nem de longe o meu posto. Falou maioritariamente com o Sr. Petterson, um homem que me apoiava na lavoura. Insistiu que nunca mais deveriam entregar-me nenhum púlpito até que houvesse recebido uma melhor educação ministerial; que deveria parar de pregar por uns tempos e ir para Princeton estudar teologia, colhendo ali melhores visões de dignificar o Evangelho.

Que nada deixe a impressão pairar no ar que reconheço que apenas os meus métodos serão perfeitos, pois não será essa a intenção. Eu tenho plena consciência que eu era pouco mais que uma criança em busca de maneiras de aplicar distintamente qualquer verdade com efeitos práticos. Nunca tive qualquer privilégio duma educação superior à deles. Tenho falta das tais qualificações que me tornariam aceitáveis do ponto de vista do mundo ministerial e creio que duma grande parte daqueles que me ouvem. Por essa razão não ambicionava nada mais que entrar e penetrar nos acampamentos dos colonos por onde passava. Até eu mesmo me surpreendi com aqueles resultados de aceitação e conversão das classes mais educadas da população em geral. Isso foi mais do que aquilo que esperava viesse a acontecer. Em tudo aquilo onde eu achasse erro na maneira de levar o evangelho, eu próprio me corrigia incessantemente. Mas quanto mais eu pregava, tanto menos razões me comprovavam que a direcção para onde me movimentava estaria errada. Não me congratulo que sejam os meus irmãos ministros quem estejam errados. Quanto mais experiência alcançava, tanto mais o fruto dos resultados eram aparentes e manifestos. Quantas mais classes de pessoas comigo conversavam, mais me convencia que seria assim que se deveria falar com as pessoas, pois por detrás duma pessoa educada existe alguém que é pessoa também. Quantas mais classes de pessoas confrontava com a sua responsabilidade diante de Deus, tanto mais eu acreditava que de facto era Deus quem me guiava em metodologia simplista e simples. Digo que foi Deus quem me guiou porque de facto assim foi. Nunca obtive qualquer destas noções de qualquer homem. Não poucas vezes pude exclamar como Paulo o fazia, que não consultei nem carne nem sangue, mas apenas aquele Espírito de Cristo. Fui ensinado continuadamente pelo Senhor em inúmeras circunstancias peculiares a adoptar certa metodologia que era variável apenas nas circunstâncias aplicáveis de Verdade &endash; nunca da Verdade em si. Tenho estas coisas para vos transmitir meus irmãos, pois há muito que necessito esclarecer as mesmas para muitos. Falo disto como um dever de obrigação. Persisto naquela convicção com que comecei, que as escolas teológicas são os locais onde todos os ministros se degradam e onde aprendem muito do que não devem. Os ministros nos dias de hoje têm deveras muitas facilidades em preencher requisitos teóricos de estudo, devido à abundância de informação disponível. Eles são estudados demais, eloquentes demais, no que toca a estudos históricos, teológicos e Bíblicos, talvez mais do que nunca, mais do que em toda a era evangélica e não só. Contudo, com toda a sua experiência, não sabem como usar os seus conhecimentos em prol da salvação, senão em deterioração através da busca de benefícios advindos da sua eloquência. Nenhum homem tem como aprender a pregar senão pregando da maneira certa, para salvar. Se salvar, alcançou o seu principal objectivo.

Mas algo que muitos ministros necessitam deveras e urgentemente, é um olho singular, preciso e apto a ver através daquela luz de cima. Se têm preenchido a reputação de nutrir a aparência humana perante as pessoas que os ouvem, tal será o tipo de convertidos que alcançarão. Poucos efeitos práticos se alcançarão em termos de eternidade. Muitos anos atrás, um pastor muito amado que conhecia, adoeceu e deixou a seu púlpito nas mãos enquanto esteve ausente. Este jovem escrevia e relatava sermões esplendorosos do ponto de vista humano. Houve necessidade por parte daquele Pastor de lhe dizer: "Você prega acima das cabeças de toda a gente. Eles nada entendem da sua linguagem, da linguagem das suas muitas ilustrações. Você serve muito dos seus muitos estudos do púlpito &endash; as pessoas não são estudantes, mas sim pecadores perdidos no seu mundo". Aquele jovem respondeu que era um jovem pastor à procura dum estilo de pregação! "Quero cultivar um certo estilo que me faça ocupar de pleno direito todo o púlpito duma congregação educada. Eu não posso dar-me ao luxo de condescender mediante as pessoas que compõem a sua congregação. Almejo um certo estilo de pregação!" Mantenho um olho sobre toda a carreira ministerial deste jovem desde então. Ainda não morreu, mas seu ministério ainda não foi falado até ao dia de hoje. Não se ouve falar do seu nome conectado com qualquer labor de relevância ministerial sequer. Nenhum avivamento está ligado ao nome deste jovem eloquente em palavreado falso. Também nunca esperei que um dia viesse a estar ligado a uma qualquer obra abençoada por Deus. Se este jovem não for radicalmente mudado, nada de bom irá produzir em termos de vida real. Posso mencionar muitos ministros por nome que ainda se encontram vivos, homens já velhos como eu o sou, que quando comecei a pregar se envergonhavam de mim por causa do dito celeuma de eu não "dignificar" o púlpito, de usar linguagem "vulgarizada", de me expressar para com as pessoas com tanta precisão e tão directamente, não apontando para o ornamento da palavra mas sim para a personalização individual da mesma e por não sustentar a exigência de dignificação do púlpito mas sim a salvação integral de todas as pessoas.

Queridos irmãos eram estes. Sempre me senti estarrecido para com eles, com o maior dos carinhos e nem por um momento me senti indignado ou irado contra eles, contra tudo aquilo que de mim diziam sem fundamento. Logo desde o início estava consciente de que me esperariam oposições e tribulação; mas existiu sempre um golfo, um abismo, entre nossos pontos de vista, os que eram prática corrente entre nós respectivamente. Muito poucas vezes me senti como pertencendo ao mesmo grupo de trabalho, ou que estes me consideravam igual a eles na sua confraternização. Eu nasci na advocacia. Saí da barra do tribunal, directamente dum escritório para tomar posse do púlpito para o qual Deus me destinou. Assim aprendi a dirigir-me às pessoas como o faria com um Jurado em tribunal judicial.

Era muito comum e vulgar entre ministros do meu tempo e época, naquela fase inicial do ministério que Deus me deu, comentarem que se eu obtive o sucesso no ministério, logo todas as escolas cairiam em má reputação diante de todos; e que nenhum homem se dignaria sustentar com fundos essas mesmas instituições se os ministros tivessem uma formação brilhante fora desses baús doutrinários. Nunca obtive uma formação teológica seminarista, é óbvio, mas também nunca me manifestei contra a existência dessas mesmas escolas, mas sim contra o manifesto desinteresse pela Verdade Vivente nelas existente. Creio mesmo ainda hoje, que toda a sua formação é precária, subdesenvolvida e não fornecem formação adequada a quem tem de salvar gente acima de ser dignificado. Estas escolas não encorajam que se fale às pessoas directamente, encorajando mesmo que se nunca se fale improvisada e espontaneamente para as grandes populações. Nenhum homem aprende a pregar por meio de estudos sem uma prática usual do uso personalizado e pessoalmente dirigido da Verdade desde qualquer púlpito. Os estudantes deveriam ser encorajados a provar todas as coisas para que retenham o bem, a exercitar seus dons como prenda responsabilizável perante Deus, a dignificar quem os chamou mais do que quem é chamado, a penetrarem onde o pecado impera com a Verdade e com aquela Luz que salva, a fazerem-se entender através de palestras sérias e individualmente direccionadas. Devem por isso aprender a pregar sem rodeios. Mas em vez de tudo isso, todos os estudantes são encorajados a escrever os seus sermões, apresentando-os mesmo para serem avaliados e criticados. Cultiva-se assim um espírito que Deus não inspira, não sustém, não suporta na Palavra. Assim, lêem os sermões que deveriam sair fogosos e direccionáveis dos seus lábios, os quais deveriam, por sua vez, estarem puros. É assim que brincam aos sermões, simulando com a seriedade da verdade, jogando com vidas de muitas pessoas. Estes ditos sermões irão sofrer modificações sob critica, sempre e sem excepção, tornando-se em composições artísticas, em redacções sumarias, degenerando assim  em mentira sob vigilância continua. As pessoas não respeitarão tal procedimento ambíguo. Ninguém achará que um sermão serve para salvar apenas e tão só. Lêem elegantemente as suas composições que buscam a conivência e o apreço dos homens e mulheres que os ouvem por motivos torpes de ganância estranha. Gratificam tão só o gosto literário e nunca serão edificantes para um mundo em clara decomposição e decadência. Não vai de encontro com as necessidades da alma. Não está claramente direccionada e calculada a promover aquilo que Cristo quis que se fizesse: a salvação espontânea de todo o tipo de homem. Os estudantes são ensinados e sobejamente encorajados a cultivarem antes um estilo fino e requintado de palavras que nada significam tendo significado, a escreverem sobre a verdade como se de arte e desenho se tratasse. Mas no meio de toda essa eloquência, perde-se invariavelmente toda a fogosidade duma verdade que queima dentro de qualquer coração limpo e sem medo do homem. Em vez dum oratório plenamente persuasivo e eficaz no manejo correcto de toda a Verdade, tendo a alma apenas cultivada a nunca se corromper pelo temor e busca carente de aprovação do homem, satisfazem os seus engodos e concupiscências pessoais fazendo uso da própria Bíblia para tais procedimentos tanto malignos como maléficos. Nada encontramos daquele espírito que queima e arde em verdade que nunca se esgota, que voa alto mas nunca se cansa. Nenhuma escola promove tal procedimento real.

Qualquer mente que aprende a reflectir verdade, sentir-se-á fora do contexto actual de todos os púlpitos, pois aspiram a salvar almas que nunca podem morrer, estando à beira duma morte sem fim à vista em vez de se tornarem retóricos e ornamentados para o belo ouvir. Sabem de antemão que ninguém aplicará tal tipo de discurso medíocre onde se lida com algo de séria envergadura. Um capitão de bombeiros, quando uma cidade está debaixo de fogo e chamas, não lê as instruções de forma retórica, mas grita com um à-vontade tal que nem sequer se dá ao trabalho de pesquisar posteriormente se gritou, se falou ou discursou bem perante quem teria de o entender perfeitamente e de forma rápida e urgente. De facto, tudo é urgente, o mundo se perde enquanto muitos se tentam enquadrar em oratórios que a ninguém convencem senão o próprio. Em vez de ser entendido, o estudante busca aceitação. Busca seriamente a aceitação dum mundo pecaminoso e irreverente, como se quisesse apenas ser grande e aceite dentro do mesmo pelo mesmo. Aceita a sua critica e rejeita o conselho de Deus, esquecendo que reflectem a espuma da sua inimizade natural contra seu Criador.

Mas quão distinto será qualquer discurso, qualquer forma de expressão quando as pessoas são seriamente afectadas pela verdade dos factos. Toda a sua linguagem em vez de escolhida é direccionada, levando tudo à frente sem nunca buscar a aceitação de ninguém, mas de Deus, assegurando fruto apenas. Os seus pontos de vista nunca são calculados, as suas palavras curtas e directas. A sua seriedade abrasadoramente real, apelando a que se reaja de imediato. Por essa razão, muitos anos antes, os ignorantes pregadores metodistas e os sérios pregadores baptistas obtinham resultados que suplantam qualquer um dos muitos estudados homens da teologia e do muito estudo actual. Os estudiosos querem ser tratados como divindades &endash; os salvadores querem salvar. O desinteressado e urgente apelo dum ser que exorta espontaneamente em conformidade com a gravidade da situação, levará qualquer congregação para além da fronteira subjacente dum discurso limitado pela elegância retórica. Grandes discursos levam os ouvintes ao rubro do louvor ao pregador. Um sermão convincente e seriamente dirigido, tende apenas a promover o louvor de Quem os chamou.

As nossas muitas escolas teológicas seriam de muito maior uso em termos reais, se fossem escolas práticas e praticantes. Um dia ouvi um sermão lido por alguém sobre a importância da pregação extemporânea ou espontânea. Todos os seus pontos de vistas estavam correctos; mas toda a sua praticabilidade comprometiam tudo o que dizia. Pareceu-me haver estudado bem o objecto do seu discurso e nada mais. A parte prática desmentia tudo aquilo que dizia. Estudou todos os aspectos práticos, mas ignorou por completo a sua devida aplicação em corações endurecidos pelo ouvir. Nunca vi um único dos muitos estudantes seus adoptar qualquer um dos seus pontos de vista. Disseram-me que este homem concluiu que se tivesse de começar de novo como orador e pregador, aceitaria de bom grado aquilo que agora se tornaram os seus pontos de vistas actuais, isto é, praticando e actuando sobre a verdade prática das coisas. Hoje lamenta que toda a sua formação haja sido e saído deficiente, anulando por inteiro todo o seu discurso que se queria prático. Mesmo na nossa escola em Oberlin, os nossos estudantes são encorajados a escrever todos os seus discursos, embora não por mim como seu professor, permitam-me dizer. Apenas muito poucos me deram ouvidos, obtendo a coragem de se lançarem para fora dum tentador discurso espontâneo, estudado e premeditado. Dizem-lhes e ensinam-lhes vezes sem conta que "não devem ser como o Finney; nem todos podem ser Finneys!"

Nenhum ministro tem por preferência falar rectamente com seus ouvintes, pois almeja pouco. Não fazem o melhor que podem e sabem e caem sempre naquela tentação de se porem a discursar e conversar amigavelmente com pessoas que estão sob ameaça de perigo eterno, eminente e contínuo. Eles têm de pregar porque são ministros, é o que sentem. Mas porque serão então levados a não fazer a coisa mais certa possível? Têm de pregar e se tem de escrever para falar, logo irão escrever coisas que dignificam apenas quem escreve. De acordo com esse ponto de vista, presume-se desde logo que eu nuca preguei então! Muitas vezes vêm-me perguntar: "Porque é que o senhor Finney não prega? Porque fala directamente com as pessoas?" Um certo homem uma vez em Londres, deixou nossas reuniões debaixo duma convicção profunda de pecado. Ele era um céptico. Sua esposa ao vê-lo naquele estado de espírito e excitação, disse-lhe: "Meu querido, foste lá ouvir o Finney a pregar?" Ao que ele respondeu: "Não, eu fui a uma das suas reuniões, pois ele não prega! Ele apenas explica tudo aquilo que os outros todos pregam". Isto, em forma resumida, foi o que sempre ouvi com muita frequência. "Mas, qualquer pessoa pode pregar como o senhor o faz! Nada de mais têm os seus sermões! Se sabem falar, podem pregar como você. Mais parece que se encontra na sala de estar da sua casa do que atrás dum púlpito!" Outros ainda diziam mesmo: "Bem isto não é pregação sequer! Mais parece que ele me olhava profundamente nos olhos, pegava-me no colarinho e falava comigo pessoalmente!"

Os ministros por regra denunciam uma recusa em pregar para as pessoas que os ouvem, receiam que os seus ouvintes achem que se estão a dirigir a eles, quando é a eles que se devem dirigir mesmo. De forma geral referem-se a outras pessoas também quando estão a ser ouvidos, falando dos muitos pecados dos outros quando os únicos que interessam são aqueles ali presentes. Em vez de apontar pecados de estranhos à reunião, um bom pregador deve ser capacitado a dizer inequivocamente "vós sois culpados destes e destes pecados; o Senhor exige de vós resposta positiva contra vós mesmos, contra vossos muitos pecados pessoais". Vezes sem conta pregam sobre o evangelho quando têm de pregar o evangelho. Se pregam o evangelho é sobre pessoas e não a pessoas, sobre pecadores e nunca a pecadores directamente. Estudam meios de evitar endereçar mensagens directamente a quem de direito, com amor, pensando e calculando que amor é evitar falar daquilo que destrói todo o amor; querem apenas criar a impressão nos homens de que não se referem a quem os ouve, quando Jesus diz mais precisamente "aquele que tem ouvidos que oiça"! Eu pensei que seria meu dever perseguir outro rumo, outros meios de persuasão, outra conduta. Sempre segui outro caminho. Sempre que preguei disse: "não pensem que me refiro a outras pessoas, mas a si, a vós pessoalmente, a si, a si e a si também!".

Também me diziam os ministros que as pessoas nunca suportariam tal tipo de discurso por muito tempo e que se iriam embora dali, fartos de me ouvir, num instante. Nunca mais voltariam para me ouvirem. Mas é pura mentira. Tudo depende com que espírito endereçamos as mensagens, se com honestidade e sinceridade palpável, se acusadoramente. Se as pessoas receberem o meu amor palpável, logo que não consigam contradizer nem negar tudo aquilo que lhes transmito, que apenas falo toda, mas toda a seu respeito, a verdade com todo a amor e preocupação santa em relação às suas almas, se estas mensagens são direccionadas para o coração, medidas para o foro pessoal e individual personalizado, poucos se ressentirão disso. Todo o ressentimento logo desvanece. Se alguma vez se sentirem apontados e repreendidos, logo vem a convicção que mereciam e necessitavam daquilo mesmo e que tudo aquilo vem para seu bem. Sempre me dirigi às pessoas quando via que estavam magoados e ofendidos com minhas palavras direccionadas a eles: "agora vós estais ressentidos com tudo aquilo que vos disse e vão sair daqui clamando que nunca mais me irão ouvir; mas virão por certo. As vossas próprias convicções me dão razão, lutam convosco a meu favor; a vossa consciência está do meu lado, assiste-me. Sabem que aquilo que vos digo é verdade, sabem que assim é de facto e que vos digo isto para vosso bem. Por essa razão não permanecerão ofendidos por muito tempo".

A minha experiência é de que, mesmo a nível de popularidade pessoal, a honestidade no confronto personalizado é sempre a melhor de todos os módulos aplicáveis a favor de quem prega. Se quem prega quer assegurar a confiança, o respeito, a afeição, o amor e o carinho de qualquer pessoa, deve manter-se fiel à pura salvação real e realçada de toda a alma. Todas as pessoas devem ver nitidamente que ele não está fazendo a corte à sua estima, que não busca popularidade, mas que apenas está tentando salvar e assegurar suas almas na verdade. Os homens nunca são tolos demais para se aperceberem destas coisas. Nunca manterão seu sólido respeito por alguém que sobe ao púlpito para ser doce e carinhoso na bajulação e mostrar desprezo incoerente pelo valor real de suas almas. Eles cordial e escondidamente desprezam a sua língua lisonjeira. Que ninguém pense almejar o respeito de outro ser como ele e isto como embaixador de Cristo, se nunca lidar com aquele valor de sua alma dentro dos seus parâmetros reais. As pessoas apenas crêem em tudo aquilo que vêm.

O grande argumento contra a minha maneira direccionada de pregar e atingir pessoalmente com a verdade quem me ouve, era que não devia fornecer tantas directrizes instrutivas às pessoas e caso escrevesse os meus sermões não explicava tanto assim. Diziam que eu não estudava e que por consequência, mesmo que obtivesse algum sucesso como Evangelista e depois de trabalhar durante um certo tempo em algum local do mundo dos perdidos, não haveria pastor para permanecer e assim cuidar do rebanho dentro dos mesmos parâmetros de pregação extemporânea e harmoniosamente personalizada. Tenho no entanto a alegar que são nítidas e claras muitas razões que me levam a crer que quem escreve e relata seus sermões, não dão assim tanta instrução quanta acham que dão. Ninguém se lembra dos seus sermões. Há inúmeras pessoas honestas que logo se referem ao facto que não têm como levar para casa nada daquilo que saiu da boca do púlpito. Centenas de vezes ouvi comentários como: "nós sempre nos recordamos de tudo aquilo que nos transmitiu, Sr. Finney. Lembro-me do texto, dos pormenores, da maneira como nos transmitiu a mensagem, mas sermões lidos do púlpito não consigo registar e manter em memória viva".

Sou pastor consagrado Há muitas décadas, desde 1832; nunca recebi qualquer queixume de que não instruía as pessoas. Não creio que as pessoas não estejam tão mal instruídas assim, no que toca à percepção da maneira como as mensagens nos chegam do púlpito, no que toca à percepção e obediência à própria mensagem desde que inspirada. Mas as que estão sob estatuto de sermão lido, aqueles que auferem sermões lisonjeiros, concebidos para agradar homens, permanecem irremediavelmente naquele erro grosseiro de falta de instrução e de pensarem que, como as mensagens não lhes tocam, estarão em perfeita harmonia com toda a verdade. É verdade que alguém pode escrever muitos sermões com pouco estudo. Mas é verdade que ninguém prega extemporaneamente sem um grande e vasto conhecimento de todas as verdades. Nenhum sermão planeado manifesta pensamento profundo e conhecedor a nível pessoal de todas as verdades. Tenho por hábito estudar o evangelho a fundo, mas também a sua melhor aplicação circunstancial, aplicável no momento. Nunca me retiro para estudos aprofundados para poder escrever sermões. Descubro que toda a minha mente se dedica por inteiro na maneira peculiar de salvar alguém logo. Entro na vida de todas as pessoas, descubro quais as suas necessidades reais, quais os cativeiros mesmo quando nem eles próprios reconhecem, quanto mais dizerem quais são! Logo de seguida busco toda a luz possível a partir do Espírito Santo para sair também logo de maneira a aplicar tudo aquilo de forma substancial e personalizada, indo de encontro àquilo que precisam e nem sempre desejam. Penso nisso com muita intensidade, oro muito sobre tudo aquilo durante o dia antes de pregar. Encho minha mente na totalidade com toda a verdade, deixo que esta inunde meu ser por completo para logo descarregar todo o meu sermão pessoal neles, de forma a que nada importante fique por transmitir e personalizar ali mesmo. O grande mal dum sermão escrito, é que, sem excepção levam quem os escreve a pensar pouco mais nele depois de os haver escrito por inteiro. Consequentemente, ora pouco sobre tudo aquilo, sobre as necessidades reais das pessoas. Talvez chegue a ler o sermão uma vez mais antes da sua entrega, mas deixa de sentir aquela necessidade de ser poderosamente ungido para que sua boca destile argumentos tais que nada mais que a verdade prevaleça mas apenas dum coração fogoso e cheio de verdade liquida. Alguém assim está sempre acomodado. Apenas tem olhos e boca, não tem espírito nem coração. Basta a tal pessoa inócua ler e descansar no erro de que as pessoas se converterão assim mesmo, no devido tempo. Talvez até seja lido um sermão escrito há anos atrás pela preguiça de se escrever outro. Talvez seja um sermão escrito recentemente, no próprio dia. Mas na hora de entregá-lo, é maná apodrecido, não será comida fresca e saborosa. Não pode ser recebida como uma mensagem ungida, poderosa e aplicável ao coração directamente, vindo do coração em direcção a outro coração. Não é linguagem de coração para coração.

Posso mesmo afirmar muito solenemente que penso haver estudado muito mais por nunca haver escrito e lido sermões. Fui sempre obrigado a pregar sobre aqueles assuntos que eram familiares aos meus pensamentos, enchendo minha mente com os mesmos e assim partir para os tornar conhecidos da melhor forma possível aonde deveria pregar. Muitas vezes fazia apenas um rascunho rápido dos assuntos dos quais ia tratar da maneira mais curta possível, numa linguagem menos acessível. Apenas punha em ordem os assuntos e os pontos que queria focar, trazia-os solenemente com efeitos práticos. Havia apenas uma certa ordem de palavras que seguia rigidamente, propostas e petições que pretendia fazer. Em resumo, apenas umas linhas gerais muito pequenas. Logo de seguida tinha certos pontos de conclusão de todo o sermão.

Mas se os ministros não tiverem aquela intenção de se dirigir directamente a quem os ouve, o melhor que sabem, mantendo seus corações em aquecimento continuo antes da dura prova de fogo, cheios de verdade e fogo, do Espírito Santo, nunca conseguirão tornar-se pregadores espontâneos e verdadeiros. Creio mesmo que uma simples meia hora de palavra de coração para coração com as maiores das seriedades, uma vez por semana, produzem mais em seus efeitos que muitos sermões escritos e lidos todos os dias, desde que em meia hora se possa falar em paladar franco e honesto, que seja direccionado perturbadoramente, seja lógico, pronto e instrutivo, provoque à prontidão. Qualquer pessoa mais facilmente se recordará desse sermão de meia hora do que muitos estudos aprofundados com a intenção de promover coisas bem elaboradas mas que muito pouco falam logo e ali. Qualquer sermão muito ponderado, perde toda a sua espontaneidade natural, privando-se assim do pleno condicionalismo a que Deus opere em quem ouve por quem fala.

Já mencionei a metodologia usada em meu labor dos últimos anos, dos anos mais recentes. Mas quando comecei a pregar, principalmente nos meus primeiros doze anos de trabalho intensivo, nem uma palavra sequer escrevia. Era sempre levado por caminhos onde havia de pregar quase sem preparação prévia, com excepção de quando me punha em oração antes de qualquer sermão. Vezes sem conta subia ao púlpito mesmo sem saber qual o assunto que iria usar para converter ou as palavras que iria usar. Dependia inteiramente do Espírito Santo para tal fim, pois Ele sempre me sugeria tanto o texto como abriria todo aquele assunto à minha mente. Posso garantir que em nenhuma ocasião preguei com tanto poder e lógica fluida, como nessas ocasiões onde laborava de manhã à noite continuamente, com cerca de dois ou mais sermões diários. Eu mesmo me surpreendia com aquelas revelações. Parecia que podia ver através de mais que intuição bastante nítida e clara, tudo o que havia de dizer, quando havia de dizer, como havia de aplicar e expressar. Todas as palavras, ilustrações vinham-me tão rápido quanto as podia entregar a quem se destinava e não a outros. Sempre que fazia rascunhos sobre aquilo que pregava, fazia-os depois de pregar e quase nunca antes. Assim preservava as linhas gerais daqueles assuntos que entregava naqueles momentos de clara nitidez. Descobri que quando o Espírito Santo descia com Sua bênção oportuna ou serôdia, fornecendo-me uma clara alusão dos assuntos a tratar, nunca tinha como não entregá-los fielmente, mas também nunca conseguia mantê-los em memória viva. Era por essa razão que escrevia os tópicos depois de qualquer sermão. Mas mesmo depois desses tempos nunca fui capaz de fazer uso de sermões elaborados com antecedência. Também nunca consegui fazer qualquer uso de tópicos anteriores e antigos em ocasiões futuras sem os remodelar e adaptar para que tivessem uma lufada de ar fresco neles mesmos, por interferência do próprio Espírito Santo. Por norma recebo os meus sermões nos meus joelhos, em oração, sob uma impressionante revelação dos assuntos em questão, muitas vezes de forma tal que me faziam estremecer profundamente com temor e tremor. Apenas com grande dificuldade tinha como escrever tais assuntos que me eram assim entregues oportunamente. Passava como fogo por mim, como uma seta pontiaguda atravessando-me corpo e alma. Apenas fazia um papel com os ditos tópicos para que mais tarde os pudesse lembrar nitidamente durante a entrega dos mesmos. Eram sermões de efeitos devastadores sobre quem os ouvia e presenciava.

Muitos dos sermões que preguei em Oberlin, recebi-os assim que tocava o sinete para a hora dos cultos. Eu sentia-me na obrigação de ir descarregá-los sobre quem me ouvia de coração cheio, sem que fizesse mais que um simples rascunho daquilo que ia dizer e mesmo assim nunca tal rascunho cobria tudo o que transmitia, nem pela metade. Não digo isto ensoberbecido, mas porque são factos e ocorrências genuínas, para dar toda a glória a Deus por nada disto haver sido talento meu &endash; de algum modo! Que ninguém pense que qualquer um dos sermões que são tidos como poderosos, alguma vez foram produto da minha mente e pensar, pois nunca foi o caso. Nunca foram de minha autoria, eram-me sempre entregues a tempo e horas pelo Espírito de Deus. E que nenhum homem clame contra mim, dizendo que penso ser mais inspirado que os outros ministros, ou mais merecedor que eles. Eu creio de coração que todo e qualquer ministro devidamente chamado por Cristo para pregar o evangelho deve e tem de estar num estado de inspiração genuína continuamente, para que seja envolto pelo próprio poder de Deus, senão nunca se poderá considerar um servo d'Ele. Que mais quis Cristo dizer quando disse "Ide, fazei discípulos de todas as nações. Eis que estou convosco até ao fim dos tempos"? Que mais quis Ele dizer quando disse, falando do Espírito Santo, "Quando vier, porém, aquele, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá o que tiver ouvido, e vos anunciará as coisas vindouras"? João 16:13.  Que mais quereria Ele nos transmitir com "Quem crê em mim, como diz a Escritura, do seu interior correrão rios de água viva. Ora, isto disse Ele a respeito do Espírito que haviam de receber os que nele cressem; pois o Espírito ainda não fora dado, porque Jesus ainda não tinha sido glorificado"? João 7:38,39. Todos ministros devem e podem ser ungidos, tão cheios do Espírito que todos aqueles que os ouvem, saiam tão impressionados sob convicção profunda que é Deus deveras quem está neles e com eles.

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