A VERDADE DO EVANGELHO
TEOLOGIA SISTEMÁTICA

Charles Finney

 

AULA 14

EXTENSÃO DA EXPIAÇÃO

 

Quais as pessoas para quem se destinavam os benefícios da expiação.

 

1. Deus faz tudo para si próprio; ou seja, Ele considera a própria glória e felicidade como a razão suprema e mais influente para toda sua conduta. Isso é sábio e correto para Ele porque sua glória e felicidade são, infinitamente, o maior bem no universo e para o universo. Ele fez expiação para satisfazer a si mesmo. "Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna" (Jo 3.16). O próprio Deus, portanto, foi beneficiadíssimo pela expiação: em outras palavras, grande parte de sua felicidade é resultado da contemplação, execução e conseqüências da expiação.

2. Ele fez a expiação para benefício do universo. Todos os seres santos são e devem ser beneficiados por ela, por sua própria natureza, uma vez que ela lhes dá conhecimento mais elevado de Deus do que jamais obtiveram antes e jamais poderiam obter de outro modo. A expiação é a maior obra que Deus poderia ter executado por eles, a mais bendita e excelente que poderia ter feito por eles. Por esse motivo, os anjos são descritos desejosos de contemplar a expiação. Os habitantes do Céu são representados profundamente interessados na obra da expiação e naquelas manifestações do caráter de Deus nela presentes.

A expiação é, portanto, sem dúvida uma das maiores bênçãos jamais conferidas por Deus ao universo de seres santos.

3. A expiação foi feita para benefício particular dos habitantes deste mundo, pela própria natureza dela, uma vez que é moldada para beneficiar todos os habitantes deste mundo; uma vez que é a mais estupenda revelação de Deus para o homem. Sua natureza é adaptada para beneficiar toda a humanidade. Toda a humanidade pode ser perdoada, caso seja corretamente afetada e por ela levada ao arrependimento, bem como qualquer parte dela.

4. Todos certamente recebem muitas bênçãos por sua causa. É provável que, não fosse a expiação, ninguém de nossa raça, exceto o primeiro casal humano, tivesse alguma existência.

5. Todas as bênçãos desfrutadas pela humanidade lhe são conferidas por causa da expiação de Cristo; isto é, Deus não poderia atender os pecadores e abençoá-los e fazer tudo que a natureza do caso admite para salvá-los, não fosse real a expiação.

6. Que foi feita por toda a humanidade é evidente pelo fato de ser oferecida indiscriminadamente a todos.

7. Os pecadores são universalmente condenados por não a receber.

8. Se a expiação não fosse destinada a toda a humanidade, seria-nos impossível não considerar Deus insincero ao lhe fazer a oferta da salvação por meio da expiação.

9. Se a expiação foi feita para uma parte apenas, nenhum homem pode saber se tem o direito de abraçá-la até que uma orientação direta de Deus lhe faça saber que ele faz parte do grupo.

10. Se os ministros não crerem que ela foi feita por todos os homens, não poderão instar, de modo sincero e honesto, qualquer indivíduo ou congregação no mundo a aceitá-la, pois não podem garantir a qualquer indivíduo ou congregação que exista mais expiação para eles do que há para Satanás.

Se a isso se replicar que pelos anjos decaídos não se fez uma expiação, mas que se fez expiação por alguns homens, de modo que pode ser verdade para algum indivíduo que ela foi feita por ele e que se ele crer verdadeiramente, com isso lhe será revelado o fato de que realmente foi feita para ele; replico: Em que deve crer o pecador como condição para salvação? Apenas que uma expiação foi feita por alguém? Seria isso fé salvadora? Não é preciso que ele a abrace e firme um compromisso pessoal e individual com ela e com Cristo? Confiar nela como algo feito para ele? Mas como seria autorizado a fazê-lo na suposição de que a expiação foi feita por apenas alguns homens e, talvez, por ele? Seria fé salvadora crer que é possível que tenha sido feita por ele e, pela crença nessa possibilidade, obteria a evidência de que, de fato, foi feita para ele? Não, ele precisa para isso obter a palavra de Deus de que foi feita para ele. Nada mais pode garantir o lançamento de sua alma nisso. Como, portanto, pode "verdadeiramente crer" ou confiar na expiação antes de receber a evidência, não meramente em sua possibilidade de ter ocorrido, mas no fato de que realmente foi feita por ele? A mera possibilidade de que uma expiação tenha sido feita em favor de um indivíduo não serve de base para a fé salvadora. Em que ele deve crer? Ora, naquilo de que tem prova. Mas a suposição é que ele só tem a prova de que é possível que a expiação tenha sido feita por ele. Ele possui, então, o direito de crer ser possível que Cristo morreu por ele. E seria isso fé salvadora? Não, não seria. Que vantagem, então, teria ele sobre Satanás nesse aspecto? Satanás sabe que a expiação não foi feita para ele; o pecador em questão sabe que é possível que tenha sido feita em seu favor; mas este não possui, na realidade maior, base para crer e confiar do que possui aquele. Ele pode ter esperança, mas não poderia crer racionalmente.

Mas quanto a esse assunto, a extensão da expiação, que a Bíblia fale por si: "No dia seguinte, João viu a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo". "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele"; "E diziam à mulher: Já não é pelo que disseste que nós cremos, porque nós mesmos o temos ouvido e sabemos que este é verdadeiramente o Cristo, o Salvador do mundo" (Jo 1.29; 3.16,17; 9.42); "Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida" (Rm 5.18); "Porque o amor de Cristo nos constrange, julgando nós assim: que, se um morreu por todos, logo, todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou" (2 Co 5.14,15); "O qual se deu a si mesmo em preço de redenção por todos, para servir de testemunho a seu tempo"; "Porque para isto trabalhamos e lutamos, pois esperamos no Deus vivo, que é o Salvador de todos os homens, principalmente dos fiéis" (1 Tm 2.6; 4.10); "E ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo" (1 Jo 2.2).

Que a expiação é suficiente para todos os homens e, nesse sentido, é geral, em oposição a particular, também se evidencia pelo fato de que os convites e as promessas do Evangelho são dirigidos a todos os homens e a todos é livremente oferecida a salvação por meio de Cristo. "Olhai para mim e sereis salvos, vós, todos os termos da terra; porque eu sou Deus, e não há outro"; "Ó vós todos os que tendes sede, vinde às águas, e vós que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite. Por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão? E o produto do vosso trabalho naquilo que não pode satisfazer? Ouvi-me atentamente e comei o que é bom, e a vossa alma se deleite com a gordura. Inclinai os ouvidos e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei um concerto perpétuo, dando-vos as firmes beneficências de Davi" (Is 45.22; 55.1-3); "Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve"; "Depois, enviou outros servos, dizendo: Dizei aos convidados: Eis que tenho o meu jantar preparado, os meus bois e cevados já mortos, e tudo já pronto; vinde às bodas" (Mt 11.28-30; 22.4); "E, à hora da ceia, mandou o seu servo dizer aos convidados: Vinde, que já tudo está preparado" (Lc 14.17); "E, no último dia, o grande dia da festa, Jesus pôs-se em pé e clamou, dizendo: Se alguém tem sede, que venha a mim e beba" (Jo 7.37); "Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e com ele cearei, e ele, comigo"; "E o Espírito e a esposa dizem: Vem! E quem ouve diga: Vem! E quem tem sede venha; e quem quiser tome de graça da água da vida" (Ap 3.20; 22.17).

De novo: infiro que a expiação foi feita por todos os homens e é suficiente para todos pelo fato de Deus não só convidar a todos, mas também por censurá-los por não aceitarem seus convites. "A suprema Sabedoria altissonantemente clama de fora; pelas ruas levanta a sua voz. Nas encruzilhadas, no meio dos tumultos, clama; às entradas das portas e na cidade profere as suas palavras: Até quando, ó néscios, amareis a necedade? E vós, escarnecedores, desejareis o escárnio? E vós, loucos, aborrecereis o conhecimento? Convertei-vos pela minha repreensão; eis que abundantemente derramarei sobre vós meu espírito e vos farei saber as minhas palavras" (Pv 1.20-23); "Vinde, então, e argüi-me, diz o SENHOR; ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã" (Is 1.18); "Vinde, então, e argüi-me, diz o SENHOR; ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã. Assim diz o SENHOR, o teu Redentor, o Santo de Israel: Eu sou o SENHOR, o teu Deus, que te ensina o que é útil e te guia pelo caminho em que deves andar. Ah! Se tivesses dado ouvidos aos meus mandamentos! Então, seria a tua paz como o rio, e a tua justiça, como as ondas do mar" (Is 48.17,18); "Dize-lhes: Vivo eu, diz o Senhor JEOVÁ, que não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho e viva; convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois por que razão morrereis, ó casa de Israel?" (Ez 33.11); "Ouvi, agora, o que diz o SENHOR: Levanta-te, contende com os montes, e ouçam os outeiros a tua voz. Ouvi, montes, a contenda do SENHOR, e vós, fortes fundamentos da terra; porque o SENHOR tem uma contenda com o seu povo e com Israel entrará em juízo. Ó povo meu! Que te tenho feito? E em que te enfadei? Testifica contra mim" (Mq 6.1-3). "Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste!" (Mt 23.37).

De novo: a mesma inferência nos é imposta pelo fato de que Deus reclama dos pecadores por rejeitarem suas ofertas de misericórdia: "Mas, porque clamei, e vós recusastes; porque estendi a minha mão, e não houve quem desse atenção" (Pv 1.24); "Eles, porém, não quiseram escutar, e me deram o ombro rebelde, e ensurdeceram os seus ouvidos, para que não ouvissem. Sim, fizeram o seu coração duro como diamante, para que não ouvissem a lei, nem as palavras que o SENHOR dos Exércitos enviara pelo seu Espírito, mediante os profetas precedentes; donde veio a grande ira do SENHOR dos Exércitos. E aconteceu que, como ele clamou, e eles não ouviram, assim também eles clamarão, mas eu não ouvirei, diz o SENHOR dos Exércitos" (Zc 7.11-13); "O Reino dos céus é semelhante a um certo rei que celebrou as bodas de seu filho. E enviou os seus servos a chamar os convidados para as bodas; e estes não quiseram vir. Depois, enviou outros servos, dizendo: Dizei aos convidados: Eis que tenho o meu jantar preparado, os meus bois e cevados já mortos, e tudo já pronto; vinde às bodas. Porém eles, não fazendo caso, foram, um para o seu campo, e outro para o seu negócio; e, os outros, apoderando-se dos servos, os ultrajaram e mataram" (Mt 22.2-6); "E, à hora da ceia, mandou o seu servo dizer aos convidados: Vinde, que já tudo está preparado. E todos à uma começaram a escusar-se. Disse-lhe o primeiro: Comprei um campo e preciso ir vê-lo; rogo-te que me hajas por escusado. E outro disse: Comprei cinco juntas de bois e vou experimentá-los; rogo-te que me hajas por escusado. E outro disse: Casei e, portanto, não posso ir" (Lc 14.17-20); "Homens de dura cerviz e incircuncisos de coração e ouvido, vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim, vós sois como vossos pais" (At 7.51); "E, tratando ele da justiça, e da temperança, e do Juízo vindouro, Félix, espavorido, respondeu: Por agora, vai-te, e, em tendo oportunidade, te chamarei" (At 24.25).

 

Passo agora a responder às objeções.

1. Objeção ao fato da expiação. Diz-se que a doutrina da expiação apresenta um Deus impiedoso. A isso respondo:

(1) Essa objeção supõe que a expiação era exigida para satisfazer a justiça retributiva, não a pública.

(2) A expiação é a manifestação de uma disposição misericordiosa. Foi porque Deus estava disposto a perdoar, que consentiu em dar o próprio Filho para morrer como substituto dos pecadores.

(3) A expiação é a manifestação infinitamente mais eminente de misericórdia jamais ocorrida no universo. O mero perdão do pecado, como um ato de misericórdia soberana, não poderia ser comparado, caso fosse possível, com a disposição misericordiosa manifestada na própria expiação.

2. Alega-se que a expiação é desnecessária.

O testemunho do mundo e a consciência de todos os homens vão contra essa objeção. Isso é universalmente atestado pelos seus sacrifícios expiatórios. Esses, conforme se disse, têm sido oferecidos por quase todas as nações de cuja história religiosa temos algum relato fidedigno. Isso mostra que os seres humanos têm, universalmente, consciência de serem pecadores e de estarem sob o governo de um Deus que odeia o pecado; ou de que se deve oferecer um substituto para justiça pública; que todos têm a idéia de que se pode conceber uma substituição, oferecendo, desse modo, seus sacrifícios como expiação. Um filósofo pagão poderia responder a essa objeção, censurando a tolice daquele que os oferece.

3. Objeta-se que é injusto punir um ser inocente em lugar do culpado.

(1) Sim, não só seria injusto, como impossível para Deus punir um agente moral totalmente inocente. Punição implica culpa. Um ser inocente pode sofrer, mas não pode ser punido. Cristo padeceu voluntariamente, "o justo pelos injustos" (1 Pe 3.18). Ele tinha o direito de exercer sua abnegação e, sendo isso por consentimento voluntário dEle mesmo, não se fez injustiça alguma contra alguém.

(2) Se Ele não tivesse direito de fazer expiação, não teria o direito de consultar e promover a felicidade dEle mesmo e a felicidade dos outros; pois se diz que "pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta" (Hb 12.2).

4. Objeta-se que a doutrina da expiação é inteiramente inacreditável. A isso repliquei numa aula anterior, mas volto a afirmar aqui que seria inteiramente inacreditável sob qualquer outra suposição que não a de que Deus é amor. Mas se Deus é amor, como afirma expressamente a Bíblia, a obra de expiação é só o que se pode esperar dEle, sob as circunstâncias; e a doutrina da expiação é, com isso, a doutrina mais razoável do universo.

5. Faz-se objeção à doutrina, afirmando-se que é de tendência desmoralizadora.

Há uma grande diferença entre a tendência natural de algo e um abuso tal de um bem, que o torne instrumento do mal. As melhores coisas, as melhores doutrinas podem sofrer e muitas vezes sofrem abusos, mas a tendência natural delas é exatamente oposta à desmoralização. Seria a manifestação do amor infinitamente desinteressado designada de modo natural a gerar animosidade? Aqueles que crêem com mais sinceridade na expiação têm manifestado a mais pura moralidade jamais vista neste mundo, enquanto os que rejeitam a expiação, quase sem exceção, manifestam uma moralidade tênue. Isso decorre, conforme se espera, da própria natureza e influência moral da expiação.

6. Para uma expiação geral, objeta-se que a Bíblia apresenta Cristo entregando a vida por seu rebanho, ou apenas pelos eleitos, não por toda a humanidade.

(1) Ela na realidade apresenta Cristo entregando a vida pelo seu rebanho e também por toda a humanidade. "E ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo" (1 Jo 2.2); "Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele" (Jo 3.17); "Vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos" (Hb 2.9).

(2) Aqueles que fazem objeção à expiação geral tomam em essência, para fugir dessa doutrina, o mesmo curso que os unitaristas tomam para fugir das doutrinas da Trindade e da divindade de Cristo. Eles citam aquelas passagens que provam a unidade de Deus e a humanidade de Cristo e depois tomam por assentado que refutaram a doutrina da Trindade e da divindade de Cristo. Os defensores da expiação limitada, de igual maneira, citam aquelas passagens que provam que Cristo morreu pelos eleitos e pelos santos e depois tomam por assentado que não morreu por ninguém mais. Para o unitarista, replicamos, admitimos a unidade de Deus e a humanidade de Cristo e o significado pleno daquelas passagens das Escrituras que citam como prova dessas doutrinas, mas insistimos que essa não é toda a verdade, mas que ainda há outras passagens que provam as doutrinas da Trindade e da divindade de Cristo. Assim também para os defensores da expiação limitada, replicamos: cremos que Cristo entregou a vida por seu rebanho, como crêem; mas também cremos que provou "a morte por todos" (Hb 2.9). "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna" (Jo 3.16).

7. Quanto à doutrina da expiação geral objeta-se que seria insensatez Deus prover algo, sabendo que seria rejeitado e que, permitir que Cristo morresse por aqueles que, previa, não se arrependeriam, seria um dispêndio inútil de sangue e sofrimento de Cristo.

(1) Essa objeção pressupõe que a expiação foi um pagamento literal de um débito, o que vimos não ser coerente com a natureza da expiação.

(2) Se os pecadores não a aceitarem, de maneira alguma a expiação pode ser inútil, uma vez que a grande compaixão de Deus ao prover uma expiação e lhes oferecer misericórdia exaltará para sempre seu caráter diante dos seres santos, fortalecerá muitíssimo seu governo e, assim, beneficiará todo o universo.

(3) Mesmo que todos os homens rejeitassem a expiação, ainda assim ela teria valor infinito para o universo como a mais gloriosa revelação de Deus jamais feita.

8. Quanto à expiação geral levanta-se a objeção de que ela implica salvação universal.

De fato implicaria isso na hipótese de a expiação ser o pagamento literal de um débito. Foi nessa pressuposição que primeiro se baseou o universalismo. Tendo por certo que Cristo havia pagado o débito daqueles por quem morreu e considerando plenamente revelado na Bíblia que Ele morreu por toda a humanidade, os universalistas inferiram natural e, caso isso fosse correto, devidamente a doutrina da salvação universal. Mas vimos que essa não é a natureza da expiação. Assim, essa inferência é lançada ao chão.

9. Objeta-se que, se a expiação não foi um pagamento do débito dos pecadores, mas é geral em sua natureza, conforme sustentamos, ela não garante a salvação de alguém. E verdade que a expiação, por si, não assegura a salvação de alguém; mas a promessa e o voto de Deus de que Cristo terá uma geração que o servirá provêem essa segurança.

 

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