A VERDADE DO EVANGELHO

MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY

por Charles G. Finney

CAPÍTULO XXX.

 
AS OBRAS EM HARTFORD E EM SYRACUSE

 

Chegamos a Oberlin em maio de 1851, depois dos costumeiros trabalhos de verão, partimos para a cidade de Nova Iorque no outono, esperando passar o inverno trabalhando com a igreja do Rev. Dr. Thompson, no velho Tabernáculo da Broadway, conforme eu fora convidado. No entanto, depois de pregar ali por um curto período, encontrei muitos empecilhos no caminho de nosso trabalho, especialmente a constante interrupção de nossos cultos noturnos, por causa do costume de emprestar o Tabernáculo para palestras públicas, nas quais falhei em obter sucesso, no esforço para promover um avivamento geral. Então fui embora, e aceitei o convite para ir para Hartford e realizar uma série de reuniões. Fui convidado pelo Rev. William W. Patton, que na época era pastor de uma das igrejas congregacionais daquela cidade.

 

Logo que comecei minhas obras ali, uma poderosa influência avivadora se manifestou no meio do povo. Mas nessa época, uma infeliz discórdia existia entre o Dr. Hawes e o Dr. Bushnell. A ortodoxia do Dr. Bushnell, como já se sabe, foi questionada. O próprio Dr. Hawes era da opinião de que as visões e idéias do Dr. Bushnell eram altamente objecionáveis. Contudo, ambos participavam de nossas reuniões e manifestavam um grande interesse em nosso trabalho que acabara de começar, e que eles mesmos podiam ver. Eles me convidaram a pregar em suas igrejas, e assim o fiz. Ainda assim os irmãos sentiam, por toda cidade, que o desentendimento entre os pastores era uma pedra de tropeço, e havia uma clara urgência para que os ministros se relacionassem de forma mais fraternal, e se unissem diante do povo, para promover a obra. As pessoas num geral não simpatizavam com as fortes opiniões do Dr. Hawes a respeito da ortodoxia do Dr. Bushnell. Ao saber disso, tive uma amigável conversa com o Dr. Hawes, e disse-lhe que ele tinha um posicionamento errado, e que as pessoas se sentiam testadas ao vê-lo dar tanta importância ao que ele chamava de erros do Dr. Bushnell, e que num geral, creio eu, não eram justificáveis à posição que ele ocupava. O Dr. Hawes era um bom homem, e claramente tinha profunda consciência de sua responsabilidade.

 

Certa noite eu estava pregando, acredito, para o Irmão Patton, e os três pastores congregacionais estavam presentes. Depois da reunião, eles foram comigo para meus aposentos, e o Dr. Hawes disse "Irmão Finney, estamos satisfeitos com o que o Espírito do Senhor tem derramado aqui, e agora, o que podemos fazer como pastores para promover essa obra?" Disse-lhes sem restrições o que pensava, que uma grande responsabilidade estava sobre eles, e que a mim me parecia que caberia a eles dizer se a obra se tornaria geral e abrangente por toda a cidade ou não, que se eles pudessem se reconciliar e superar suas diferenças, e diante de suas igrejas, unirem-se pela causa da obra, um grande obstáculo seria removido e que então poderíamos esperar que a obra se espalhasse rapidamente por todas as direções. Eles viram sua posição. Hawes e Bushnell chegaram a um acordo para deixar de lado as dificuldades e avançar na promoção da obra. Devo dizer aqui que acredito que o Irmão Patton nunca simpatizou com as fortes opiniões defendidas pelo Dr. Hawes, e devo dizer também que o próprio Dr. Bushnell parecia não ter nada contra o Dr. Hawes, e o empecilho a ser removido diante do povo parecia ser principalmente, a falta de vontade do Dr. Hawes em cooperar cordialmente com outros pastores na obra.

 

Ele era um homem bom demais para persistir em fazer qualquer coisa que impediria sua ação consistente para promover a obra. Portanto, a partir daquela época, parecíamos trabalhar juntos, com muita cordialidade. A obra se espalhou por todas as congregações, e prosperou cheia de esperança, por várias semanas. Mas havia uma peculiaridade sobre aquele trabalho que jamais esquecei. Creio que todos os domingos que estive naquela cidade foram tempestuosos. Uma sucessão tal de tempestades que jamais vivenciei. Contudo, nossas reuniões eram sempre lotadas, e para um lugar como Hartford, a obra se tornou poderosa e abrangente.

 

Quem conhece Hartford sabe o quão meticuloso e preciso é aquele povo, em tudo que fazem. Tinham medo de qualquer outro método além de reuniões de oração, de pregação e de perguntas e respostas. Em outras palavras, estava fora de cogitação chamar pecadores para virem à frente, e romperem com o temor dos homens, entregando-se publicamente a Deus. Em especial, o Dr. Hawes tinha muito medo de medidas como essa. Conseqüentemente eu não podia fazer isso ali. De fato, o Dr. Hawes tinha tanto medo dessas medidas, que eu me lembro de certa noite, que ao participar de uma reunião para perguntas e respostas em sua sacristia, o número de irmãos presentes era grande, e no encerramento da reunião, convidei aqueles que estavam dispostos a entregar suas vidas para Deus, a se ajoelharem. Isso espantou o Dr. Hawes, e ele comentou antes que eles se ajoelhassem, ninguém era obrigado a fazê-lo, a menos que com alegria, assim desejassem. Enfim, ajoelharam-se, e oramos com eles. Conforme aqueles novos irmãos se levantavam e eram dispensados, o Dr. Hawes comentou comigo "Sempre senti a necessidade de uma medida como essa, mas sempre temi em fazê-lo. Sempre vi que havia a necessidade de algo mais para trazer as pessoas a uma decisão, e para induzi-los a agir de acordo com suas convicções, mas nunca tive a coragem de propor algo do tipo." Eu lhe disse que descobrira que tal medida era indispensável, para trazer os pecadores ao ponto da submissão.

 

Nesse avivamento houve muita oração. Os jovens convertidos em especial, entregavam-se demais à oração. Certa noite, eu soube, depois do culto, um dos jovens convidou outro para ir até sua casa com ele e ter um período de oração em comunhão. O Senhor estava com eles, e na noite seguinte eles convidaram outros, e na noite seguinte, mais ainda, até que a reunião se tornou tão grande que foi necessário dividi-la. Essas reuniões eram realizadas depois do culto. A segunda reunião logo se tornou grande demais para a sala onde era realizada, e foi mais uma vez dividida. E pelo que entendo, essas reuniões se multiplicaram até que todos os jovens convertidos adquirissem o hábito de realizar reuniões de oração, em diferentes lugares, depois do culto. Isso levou a um esforço bastante organizado, entre os jovens, pela salvação de almas.

 

Uma situação muito interessante aconteceu nessa época nas escolas públicas. Fui informado que os pastores não visitariam as escolas, nem fariam esforços religiosos ali, pois isso incitaria inveja em diferentes denominações. Eu soube que certa manhã vários rapazes, ao se reunirem, estavam tão agitados que não conseguiam estudar, então pediram para seu professor que orasse por eles. Ele não era professor de religião, então mandou chamar um dos pastores, informando-lhe da situação, e pedindo-lhe que viesse realizar algum tipo de reunião religiosa com eles. Mas ele recusou, dizendo que havia um acordo entre os pastores de não ir às escolas públicas para realizar eventos religiosos. Ele chamou outro, e outro, mas todos lhe disseram que ele mesmo deveria orar pelos alunos. Isso gerou uma imensa pressão sobre ele, mas resultou, creio eu, na entrega de seu próprio coração a Deus, e em seu envolvimento para que toda a escola se convertesse. Até onde sei, boa parte dos alunos, em muitas das escolas públicas, foram convertidos naquela época.

 

Todos que conhecem a cidade de Hartford sabem que seus habitantes são pessoas muito inteligentes, que todas as classes sociais têm educação, e que não há, talvez em todo o mundo, uma cidade com uma educação tão organizada quanto Hartford. Quando os convertidos foram admitidos, creio que por volta de seiscentas pessoas uniram-se a suas igrejas. Antes de ir embora, o Dr. Hawes me disse "O que devemos fazer com esses jovens convertidos? Se deles formássemos uma igreja, tornar-se-iam admiráveis obreiros pela salvação de almas. No entanto, se os recebermos em nossas igrejas, nas quais temos tantos senhores e senhoras de idade, de quem sempre se espera a liderança, sua modéstia os fará ficar para trás desses irmãos, e viverão como têm vivido, e serão tão ineficientes como têm sido." Contudo, os jovens convertidos de ambos os sexos, formaram por si mesmos um tipo de sociedade missionária na cidade, e se organizaram com o propósito de realizar esforços diretos para converter almas por toda a cidade. Tais esforços como esse, por exemplo, foram feitos por vários deles. Uma das principais moças, talvez tão conhecida e respeitada quanto qualquer senhora da cidade, assumiu a responsabilidade de clamar por, e se possível converter, um grupo de jovens rapazes que pertenciam às ricas e proeminentes famílias, mas que tinham adquirido maus hábitos, caído na imoralidade, e perdido o respeito pelas outras pessoas.

 

A posição e caráter dessa jovem tornaram possível e próprio que ela realizasse tal tarefa sem gerar suspeita de comportamento impróprio de sua parte. Ela viu uma oportunidade para conversar com esse grupo de rapazes, e até onde sei, reuniu-os para oração e conversa sobre religião, tendo sucesso no clamor por vários deles. Se bem fui informado, os que se converteram nesse avivamento tornaram-se uma grande força para o bem naquela cidade, e muitos deles ainda permanecem lá, trabalhando ativamente na promoção da religião.

 

A Sra. Finney estabeleceu reuniões de oração para as mulheres, que eram realizadas na sacristia das igrejas. Essas reuniões tinham um público muito grande, e se tornaram muito interessantes. As mulheres estavam muito unidas, e sinceramente envolvidas, tornando-se assim uma das principais forças, sob o poder de Deus, para levar adiante Sua obra.

 

Saímos de lá por volta do dia primeiro de abril, indo para Nova Iorque a caminho de casa. Ali, preguei algumas vezes para o Rev. Henry Ward Beecher, no Brooklyn, onde crescia uma profunda influência religiosa no meio do povo tanto quando cheguei, quanto quando fui embora. Mas preguei apenas algumas poucas vezes, pois minha saúde já não mais suportava, e fui obrigado a parar. Chegando a casa, continuamos com nossas obras como sempre, com o resultado quase que uniforme de um alto nível de influência religiosa entre nossos alunos, que se estendia de uma forma meio generalizada aos outros cidadãos.

 

No inverno seguinte saímos de Oberlin na época de costume, e fomos para o Leste, trabalhar num campo para o qual fôramos convidados. Enquanto estávamos em Hartford, no inverno anterior, fomos urgidos a ir para obrar em Syracuse. O pastor da igreja Congregacional viera até Hartford para me persuadir, se possível, a retornar com ele. Eu não via que era meu dever ir até lá naquele momento, e não pensei mais no assunto. Mas desta vez, a caminho do Leste, encontramos esse pastor em Rochester. Nesse momento ele não era mais o pastor da igreja Congregacional da cidade de Syracuse. Mas tinha tanto apreço por eles, que finalmente induziu-me a prometer que faria uma parada ali, para passar pelo menos um domingo. Assim o fizemos, e encontramos uma igreja muito pequena e desencorajada. Eram poucos membros. A igreja era composta em sua maioria de pessoas com visões radicais, no que dizia respeito às grandes questões da reforma. As igrejas Presbiterianas, e outras igrejas no geral, não simpatizavam com eles, e parecia que a igreja Congregacional deveria ser extinta.

 

Preguei ali num Domingo, e a situação da igreja tornou-se tão clara para mim, que fui induzido a permanecer mais uma semana. Logo comecei a perceber um movimento em meio aos ossos secos. Alguns dos principais membros da igreja Congregacional começaram a fazer confissões uns aos outros, e confissões públicas de suas idéias sobre Deus, e sobre outras coisas que criaram preconceito contra eles na cidade. Isso conciliou as pessoas a seu redor, e eles começaram a vir, e logo sua casa de adoração era pequena demais para o povo. e embora eu não esperasse permanecer mais do que um domingo, não via que meu caminho estivesse aberto para ir embora, e continuei ali, semana após semana. O interesse continuava a aumentar e se espalhar. O Senhor removia os obstáculos, e aproximava mais o povo cristão. As igrejas Presbiterianas foram abertas às nossas reuniões, e as conversões se multiplicavam por todo lado. Nunca existira muita simpatia entre eles, e uma tremenda obra era necessária entre os professores de religião, antes que os caminhos pudessem ser preparados fora das igrejas. Assim eu continuei a trabalhar em cada uma, até que a Segunda Igreja Presbiteriana ficou sem pastor. A partir de então, concentramos muitas de nossas reuniões ali, uma medida que foi seguida durante todo o inverno.

 

Aqui a Sra. Finney estabeleceu novamente sua reunião de senhoras com muito sucesso. Ela geralmente as realizava na sala de palestras da Primeira Igreja Presbiteriana, que creio eu, era uma sala cômoda e conveniente para tais reuniões. Muitos fatos interessantes aconteceram em suas reuniões naquele inverno. Cristãos de diferentes denominações pareciam fluir juntos depois de certo tempo, e todas as dificuldades que existiram entre eles pareciam ter sido desfeitas. As igrejas Presbiterianas e Congregacional ficaram todas sem pastores enquanto eu estava lá, e, portanto, nenhuma delas abriu suas portas para receber os novos convertidos. Eu tinha um grande desejo que isso acontecesse, mas sabia que havia um grande risco, que se começasse a receber os novos convertidos, a inveja se espalharia e prejudicaria a obra.

 

Quando estávamos prestes a ir embora, na primavera, anunciei de púlpito, sob minha própria responsabilidade, que no domingo seguinte, teríamos um culto de comunhão, ao qual todos os cristãos, que realmente amavam ao Senhor Jesus Cristo, e demonstravam isso em suas vidas, estavam convidados. Aquele foi um dos períodos de comunhão mais interessantes que jamais presenciei. A igreja estava cheia de comungantes. Dois ministros muito idosos, os padres Waldo e Brainard, participaram e ajudaram no culto de comunhão. Havia um grande amor na congregação, e uma comunhão mais apaixonada e alegre do povo de Deus, creio que nunca vi.

 

Depois que fui embora, todas as igrejas estabeleceram pastores. Fui informado de que aquele avivamento resultou em um grande e permanente bem. A igreja Congregacional construiu para si um templo maior, e tem sido desde então, acredito, uma igreja e congregação saudável. As igrejas Presbiterianas, e creio que as Batistas também, foram muito fortalecidas em sua fé, e cresceram em seu número.

 

A obra foi muito profunda entre os professores de religião. Um fato muito impactante ocorreu, que devo mencionar. Havia uma senhora de nome C, a esposa cristã de um marido não convertido. Ela era uma senhora muito refinada, muito bela e de ótimo caráter. Seu marido era um mercante, um homem de boa moral e caráter. Ela participava de nossas reuniões, e tornou-se muito ansiosa por uma obra mais profunda da graça em sua alma. Ao visitar-me certo dia, ela estava muito ansiosa e cheia de dúvidas. Conversei com ela por alguns momentos, e chamei sua atenção especialmente para a necessidade de uma consagração plena e universal dela, por inteiro, a Cristo. Disse-lhe que quando fizesse isso, deveria crer num selo do Espírito Santo. Ela escutara da doutrina da santificação, e isso muito a interessava, e sua dúvida era como poderia obtê-la? Orientei-lhe da forma que mencionei, ela se levantou rapidamente e me deixou. Tamanha pressão estava sobre sua mente, que ela parecia com pressa para apropriar-se da plenitude que havia em Cristo. Creio que ela não esteve em meus aposentos por mais de cinco ou dez minutos, e deixou-me como alguém que tem negócios urgentes a resolver. À tarde ela voltou, aos olhos humanos, tão cheia do Espírito Santo quanto pudesse estar. Ela disse que se apressou para casa pela manhã, ao sair de nossa reunião, e foi imediatamente à seus aposentos, jogando-se aos pés do Senhor, consagrando-se totalmente e tudo que tinha a Ele. Ela disse que compreendia muito melhor o que aquilo significava, e fez uma entrega completa às mãos de Cristo. Sua mente acalmou-se de uma só vez, e ela sentia que começava a receber a plenitude do Espírito Santo. Em pouquíssimo tempo ela parecia ser erguida acima de si mesma, e sua alegria era tão grande que mal conseguia segurar os brados.

 

Conversei um pouco com ela, e vi que ela corria o risco de estar empolgada demais. Falei tanto quanto ousei falar para colocá-la em alerta a respeito disso, e ela foi para casa.

 

Poucos dias depois, seu marido veio visitar-me numa manhã com sua charrete, e convidou-me a dar uma volta com ele. Eu fui, e vi que seu objetivo era falar comigo sobre sua esposa. Ele disse que ela fora criada entre amigos, e quando se casou com ela, pensava que ela fosse uma das mais perfeitas mulheres que já conhecera. Mas por fim, ele disse, que ela se converteu, e ele então percebeu uma mudança tão grande nela, maior do que jamais pudesse imaginar, pois antes ele a via como perfeita, em sua moral, em sua vida exterior. Ainda assim, a mudança em seu espírito e essência, na época de sua conversão, era tão manifesta que ele disse que não havia como duvidar. "Desde então, eu a tenho como praticamente perfeita. Mas, agora ela passou por uma mudança maior do que nunca. Vejo isso em tudo. Tal espírito existe nela, tamanha mudança, tamanha energia em sua religião, tamanha plenitude de alegria, paz e amor!" E perguntou "O que farei com isso? Como posso entender? Tais mudanças realmente ocorrem em pessoas cristãs?"

 

Expliquei-lhe da melhor forma que pude. Tentei faze-lo entender o que ela era por sua educação como uma quaker, e o que sua conversão havia feito por ela. Então lhe disse que um novo batismo no Espírito Santo realizara tamanha mudança nela, naquela época. Ela já partiu para o céu, mas o sabor daquela unção do Espírito permaneceu com ela, como mais tarde fui informado, até o dia de sua morte.

 

Há uma circunstância que já ouvi a Sra. Finney relatar várias vezes, que ocorreu em suas reuniões, que vale ser mencionada aqui. Sua reunião de senhoras era composta das mais inteligentes senhoras nas diferentes igrejas. Muitas delas provavelmente fastidiosas. Mas havia uma senhora de idade, sem escolaridade, que participava das reuniões, e que costumava falar, de vez em quando, aparentemente para irritar as outras mulheres. De alguma forma ela achava que era seu dever falar em todas as reuniões, e algumas vezes ela se levantava e clamava ao Senhor para que Ele derramasse sobre ela o que ela deveria falar na reunião, enquanto tantas senhoras cultas tinham a permissão de participar, mas não de falar coisa alguma. Ela se perguntava por que Deus lhe havia dado o dever de falar, enquanto aquelas finas senhoras, que poderiam falar tanto para a edificação, tinham a permissão de participar e "não questionar", como ela descrevia "engolir". Ela parecia sempre falar de forma chorosa e reclamona. O fato de que ela achava que era seu dever falar em todas as reuniões desencorajava e irritava bastante minha esposa. Ela via que as senhoras não se interessavam, mas isso para ela não passava de um elemento de perturbação.

 

Mas depois das coisas continuarem assim por algum tempo, um dia essa mesma senhora se levantou na reunião, e um novo espírito estava sobre ela. Logo que abriu sua boca ficou claro a todos que uma grande mudança viera sobre ela. Ela viera para a reunião cheia do Espírito Santo, e compartilhou de sua nova experiência, para espanto de todas. As mulheres ficaram muito interessadas no que aquela senhora dizia, e ela continuava a contar com grande sinceridade o que o Senhor fizera por ela, que cativou a atenção de todas as mentes. Todas se voltaram para ela, para ouvir cada palavra que ela dizia. As lágrimas começaram a cair, e um grande mover do Espírito era claro e visível naquela reunião. Uma mudança tão admirável trouxe um bem imenso, e aquela senhora tornou-se muito querida. Depois disso, elas aguardavam o momento em que ela falaria alguma coisa, e muito se deliciavam nas reuniões, ao ouví-la contar o que o Senhor fizera, e estava fazendo por sua alma.

 

Em Syracuse, encontrei uma mulher cristã, a quem chamavam de Madre Austin, uma mulher de fé admirável. Ela era pobre e totalmente dependente da caridade das pessoas para sobreviver. Não era uma mulher culta, e fora criada em uma família de pouquíssima educação. Mas ela tinha uma fé tamanha que assegurava a confiança de todos que a conheciam. Parecia haver uma convicção universal entre crentes e ímpios, que a madre Austin era uma santa. Creio que jamais conheci uma fé maior em sua simplicidade do que a manifestada por aquela mulher. Muitos fatos foram relatados a mim, relacionados a ela, que mostravam que ela confiava em Deus, e a maneira admirável que Deus provia o suprimento de suas necessidades dia após dia. Ela me disse numa certa ocasião, "Irmão Finney, é impossível para eu sofrer qualquer necessidades da vida, porque Deus me disse 'Confia no Senhor e faze o bem; habitarás na terra, e verdadeiramente serás alimentado. '" Ela me contou muitos fatos de sua história, e muitos outros me foram contados por outras pessoas, como ilustração ao poder de sua fé.

 

Ela disse que certa noite de sábado, um amigo seu, mas homem impenitente, foi visitá-la, e depois de conversar um pouco, ofereceu-lhe uma nota de cinco dólares, antes de ir embora. Ela disse que sentira uma admoestação interior para que não aceitasse. Sentia que aquilo seria um ato de justiça própria para aquele homem, e poderia prejudicá-lo mais do que poderia ajudá-la. Então ela recusou, e ele foi embora. Ela disse que tinha lenha e comida em casa o suficiente para durar até o domingo, e só isso, e não tinha como obter mais nada. Mas ainda assim, não teve medo de confiar em Deus diante das circunstâncias, como fizera por tantos anos.

 

Do dia de domingo, veio uma violenta nevasca. Na manhã de segunda, a neve tinha alguns metros de altura, e as ruas estavam bloqueadas, de maneira que não havia como sair sem limpar o caminho. Ela tinha um filho ainda jovem, que vivia com ela, e os dois era sua família inteira. Eles levantaram de manhã e se encontraram rodeados pela neve, por todos os lados. Eles conseguiram juntar combustível suficiente para um pouco de fogo, e logo o menino começou a perguntar o quê eles teriam para o desjejum. Ela disse "Eu não sei, meu filho, mas o Senhor proverá." Ela olhou para fora, e ninguém conseguia passar pelas ruas. O rapaz começou a chorar amargamente, e concluiu que eles morreriam de fome e frio. Contudo, ela prosseguiu e preparou-se para o café, caso viesse. Acho que ela disse que pôs a mesa, e fez as preparações para seu desjejum, acreditando que chegaria ao momento apropriado. Logo ela ouviu um falatório na rua, e foi até a janela ver o que era, e observou um homem com uma charrete, e mais alguns homens que vinham removendo a neve, para que o cavalo pudesse passar. Eles vieram até sua porta, e eia! Eis que haviam trazido combustível e provisões, tudo necessário para que ela passasse muitos dias de forma confortável. Mas o tempo me faltaria em contar os exemplos nos quais ela foi ajudada de forma tão marcante como essa. De fato, era notório por toda cidade, até onde pude entender que a fé da madre Austin era como um banco, e que ela jamais sofrera por falta nas necessidades da vida, porque se apoiava em Deus.

 

Eu nunca soube quantas pessoas se converteram em Syracuse naquela época. Na verdade nunca tive o hábito de contar às pessoas que se convertiam de fato. 

 

 

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